Pages

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020


Posso eu usar eterno retorno
se quero falar de
enganos - apreensão de sentidos drogada 
e de perplexidade - 
diante da mutação genética e da dor de um parto infinito,
aquele que rasga esse corpo e o que come esse fígado

Posso não me repetir?
É do que falo.
Se evoluo, 
estou cego por duras penas


terça-feira, 4 de dezembro de 2018

pessimismo antes do fim

Se Berlim não rimasse com fim
Peut être
Tu m'aurais même pas donné le droit de faire
ce poème
escrito em mauvais portugais e em
francês gozado.
mesmo dentro,
me perdia na harmonia do teu corpo.
corpo gozado

um hiato na minha desventura clichê
que foi esse belo corpo gozado,
alvo corpo fugaz

[como se o caos desse ser existente evaporado
se aglomerasse para criar um sentido]

não mereço mais do que a minha
desventura clichê

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Poemas vermelhos do caderno vermelho

Em algum momento em 2016, durante a aula teórica da Daniel Araújo

l'enfer c'est moi

quando eu estou desgostoso - ou
como gosto de chamar:
mal do cu -
ninguém escapa ao desprezo afiado
da minha amargura
   torno-me o pior inferno do outro
inferno insuspeito

#####################################################

Tô com uns vermes no ventre
que chique. vieram de
Marraquexe

[tajine biológico]
a giárdia muda seu status para sério
e agora me cago pelos cantos

#####################################################

o b n u b i l a d o
parece bilau
algo relativo a tapa-sexo
ou a surra de piroca

#####################################################

nome de mãe / lombriga fofa

lombriga fofa
a menina da vizinha da minha tia ia brincar lá em casa.
Um dia, mãe deu remédio pra todo mundo
não gostava de gente mais pobre que ela
Nas fezes dessa menina saiu uma lombriga
VIVA, com dois olhinhos pretos curiosos
e uma boquinha que abria e fechava.
uma graça.

#####################################################

Queria ter tanta pena quanto esta ardósia encardida

preto preto
bege preto
branco sujo
cinza
rejunte

sem penas, e sim minúsculos pêlos
que se transformarão em poeira

#####################################################
imprimiu em mim uma dor
em 3D
dddor

sábado, 12 de maio de 2018

raposa do ar
tão leve ser que me
leva a leve ser

caminhando nas tuas planícies
me esqueço
e se por acaso a raposa some
pra caçar sua leve presa
eu resto
sou mais não sei o quê
não sei se o resto que deixei ou o resto que ficou


raposa do ar
tão leve ser que me
leva a voar no abismo
como peso morto

sexta-feira, 11 de maio de 2018

(um bar e algumas cervejas
uma traição e dois tédios pra acompanhar)

perplexo
 o tempo sem nexo
pensamento parado
ilógico

permito
 como mentiroso convicto
largar a palavra
explosiva

sou o primeiro a me anistiar
e me sinto
perdoado. durmo

acordo na mesma poesia.
vislumbro o sol
e penso em como dele usufruem esses no sul
me sinto impotente 
diante do sol
diante do que é
do que nunca chegará
diante da falta de lar
da falta de si
e da abundância da solidão
esse astro cujo centro é só perplexidade

segunda-feira, 12 de março de 2018

queria conversar contigo
para esclarecer
queria conversar contigo para esclarecer
conexào rio-são paulo
pequeno burguês usuário do asfalto
insensato no Astra.
queria conversar contigo para esclarecer o teu não
me recolho em vaidades
púrpuras
tecidos florais a que estais
cobrindo tua nudez
um carimbó que enfeita
a saudosa suja esquina da Lapa, que agora é
meio copo de tédio
o meu corpo grita -
e auto-flagela-se
confusão.

sofro com o quê? qual o amor?
o que espero? qual a palavra
entalada na garganta?
qual a ação que de mim se
desprenderá?

Encho-me de vaidades púrpuras
e a cada vez olho com repugnância
tenho um nojo guardado
um certo ódio
a quê?

algum momento em 2017